quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os “Gaiolas” do São Francisco.

Conheça alguns dos vapores que navegaram no Velho Chico!
Passeie pela história!

Os “Gaiolas” do São Francisco

Segundo o historiador do São Francisco, Brasiliano Braz, foi durante a guerra do Paraguai que o Barão de Guaicui resolveu construir o primeiro “gaiola” que navegaria no rio São Francisco.

O “Saldanha Marinho”

25 de junho de 1867, o governo de Minas, através do conselheiro Joaquim Saldanha Marinho, firmou contrato com o engenheiro Henrique Dumont, pai de Alberto Santos Dumont - o pai da aviação – para construir um vapor com 25 HP de força. Nascia do “Saldanha Marinho”, de rodas laterais.

Chegou ao porto de Pirapora em 1902 descendo pelo rio das Velhas e foi incorporado ao patrimônio do Estado de Minas Gerais.

Ficou encalhado por muito tempo na foz do rio das Velhas na Barra do Guaicui, e em seguida conduzido para cidade de São Francisco em 1878 e seguindo depois para Pirapora.

Origem - Foi construído na América do Norte, navegou por vários anos no rio Mississipi, depois no rio Amazonas, depois desarmado e transportado em carretas puxadas por bois até os terminais ferroviários até chegar a Sabará, presumivelmente em 1852.

Inaugurado em 1871 pelo imperador Dom Pedro II, foi lançado nas águas do rio das Velhas em grande festa. Desceu o rio das Velhas até o São Francisco, atracando na cidade de São Francisco onde permaneceu por longos anos aos cuidados da Câmara Municipal da cidade.

Durante vários anos, navegou de Pirapora a Juazeiro, tinha o apito rouco e estridente, que atraia os moradores ribeirinhos as margens do rio para vê-lo passar com suas duas rodas laterais.

A capacidade de carga do Saldanha Marinho era de 6 toneladas e de 12 passageiros.


O “Presidente Dantas”


Foi o segundo “gaiola” do São Francisco, veio da Baia da Guanabara para fazer companhia ao Saldanha Marinho.

Foi adquirido da Cia. Ponta D’areia, do Rio de Janeiro pelo governo da Bahia, foi desarmado, e transportado a bordo de um navio até Salvador, indo de trem até Alagoinhas e segui para Juazeiro em carros de boi. Comprado em 1865, somente em 1872 foi lançado nas águas do São Francisco em Juazeiro.

Tinha 30,5m de comprimento e capacidade para 20 toneladas.

Sua primeira viagem foi de Juazeiro (BA) até Santa Maria da Boa Vista (PE) em 22 de dezembro 1872.


A lancha “Cezário”



Em terceiro lugar a navegar as águas do São Francisco, veio a lancha “Cezário”, uma iniciativa dos irmãos Cezários, comerciantes em Juazeiro, viajavam até Bom Jesus da Lapa fazendo intenso comércio nas águas.



O vapor “São Paulo”



Foi construído por iniciativa de Pedro Pereira Pinto e Francisco Bispo, mas não teve vida longa.

Desapareceu misteriosamente do porto de Januária depois de uma divergência entre seus proprietários.



O vapor “Antonio do Nascimento”



Foi o quinto a navegar no Velho Chico, era de propriedade a Nascimento & Irmãos, de Pirapora que trafegava até Bom Jesus da Lapa fazendo comércio de compra e venda para própria firma.

Comprado pela Navegação Mineira do São Francisco, passou a navegar até Juazeiro, sendo desativado em 1965.



O “Alfredo Viana” o baiano “São Salvador”

Construído em Juazeiro em 1937, pela Dourado Viana & Cia., o “gaiola” Alfredo Viana, impulsionado por hélice, depois de navegar muito tempo entre Juazeiro e Santa Maria da Vitória na Bahia, foi vendido a um comerciante Clemente Araújo Castro, e depois adquirido pela Cia. Indústria e Viação de Pirapora, que fez um reforma, transformando-o em “gaiola” de grande porte e passou a ser chamado de “São Salvador”. Capacidade de 40 toneladas.

(Em fase de restauração no porto de Pirapora sendo transformado em barco escola).

O “Mata Machado”

Era o mais possante, e o mais veloz de todos os “gaiolas”, pertencia a frota da Viação Baiana. Tinha o casco achatado, o que fazia que raramente encalhasse nos bancos de areia.

Era confiado aos melhores comandantes, porque só quem queria viajar nele eram as personagens importantes do pais e as famílias nobres da carreira do rio.

Foi o sexto a navegar no São Francisco, chegou a Pirapora em 1906, ano em que o rio transbordou, subindo 7 metros acima do seu leito normal. Foi um dos maiores "gaiolas” daquela época com a capacidade de 75 toneladas.

No mesmo ano que o Mata Machado chegou a Pirapora, encontrou o Saldanha Marinho ancorado no porto. O encontro dos Gaiolas serviu para inaugurar oficialmente a navegação a vapor do São Francisco em Pirapora.

O “Engenheiro Halfeld” e o “Melo Viana”

Os dois foram construídos nos estaleiros de Hamburgo, na Alemanha em 1927, depois de transportados até o Rio de Janeiro, foram levados de trem até Pirapora, onde foram montados e lançados ao rio em 1930.

Foram também desativados pela Cia. de Navegação do São Francisco em 1965.

O “gaiola” “Melo Viana” teve seu nome substituído por “Raul Soares”. Tinha 37,57 m de comprimento com data de construção em 1926. Os dois tinham capacidade de 150 toneladas.

Depois do “Mata Machado” o “gaiola” “Engenheiro Halfeld” era um dos maiores que trafegavam no São Francisco, com duas classes, medindo 47,80 m de comprimento com potencia de 360 c.v. de força.

O “São Francisco”


Foi trazido para o Velho Chico em 1930, mas já navegava no Mississipi desde 1913, quando foi construído.


Como os demais, era movido a lenha, tina 38,8 m, com 60 CV de potencia e com a capacidade de 80 toneladas.

Foi totalmente destruído pelo fogo, no porto de Pirapora, com causa ignorada até os dias de hoje.

Havia sido recuperado e sofrido algumas reformas no estaleiro da Franave em Juazeiro em abril de 1983. Zarpou de Juazeiro com destino a Pirapora conduzindo uma equipe da BBC de Londres, sendo esta sua última viagem.

Dentre todos os gaiolas do São Francisco, haviam sobrado dois, o Benjamin Guimarães e o São Francisco, hoje, somente o Benjamin continua navegando em passeios turísticos.

O “Benjamin Guimarães”


De origem americana, foi adquirido no Amazonas, e hoje navega em passeios Turísticos em Pirapora. Sua capacidade é de 90 toneladas.

É o único vapor movido a lenha do mundo em navegação!



O “Barão de Cotegipe”



 Foi o “gaiola” que mais deixou saudades nas barrancas do São Francisco. Até hoje os barranqueiros comentam sobre o apito melodioso do Barão de Cotegipe. Fabricado na América em 1913, foi reformado em 1967. Abandonado no porto em Pirapora, com o casco enterrado num banco de areia (dados de 1985). Tinha 43 m de comprimento com capacidade de 80 toneladas.



O “Fernandes da Cunha”


 Como o São Salvador, o “gaiola” “Fernandes da Cunha” foi construído em Juazeiro em meados de 1926, com a maquina mais moderna da época tinha capacidade de 176 HP de força. Com a capacidade de 80 toneladas, ainda conduzia duas chatas com 90 toneladas cada.


Em 1978 foi incendiado no porto de Matias Cardoso a 413 km de Pirapora, para onde foi levado depois do incêndio e abandonado, cuja carcaça se encontra submersa.

O “Cordeiro de Miranda”



Fabricado na Escócia em 1912, foi conduzido em lombo de animais até o porto de Juazeiro.

Seu nome anterior era “Rio Branco”, por ser muito alto e estreito, naufragou duas vezes.

Depois, com o novo nome “Cordeiro de Miranda”, trafegou por longos anos, vindo a naufragar em 13 d fevereiro de 1943, acima de Remanso a 48 km, num lugar denominado “Malhadinha” morrendo seu comandante Samuel Ayres do Nascimento, de Juazeiro, além de 27 pessoas entre tripulantes e passageiros.

“Os sobreviventes do naufrágio foram socorridos pelos tripulantes do “gaiola” Engenheiro Halfeld” a meia noite e meia, exatamente na hora do acidente.

O Cordeiro de Miranda tinha 28,7 m de comprimento, 60 HP de potencia.


O “Wenceslau Braz”


Considerado um dos melhores vapores para o turismo que a Franave possuía. Transportado do rio Sapucaí para o leito do rio das Velhas em data ignorada, sofrendo naufrágio em 1968 na Cachoeira do Sobrado, onde hoje esta localizada a barragem de Sobradinho. Foi desativado em 1975 e em julho de 1981 foi transformado em chata para transportar carvão vegetal.


O “Fernão Dias”


Construído em Glasgow, na Inglaterra, encomendado pelo governo mineiro em 1924, chegou ao porto de Pirapora em 1928. Terminada a montagem em 1929, foi lançado as águas do São Francisco.

Em 1945, sofreu naufrágio nas proximidades do povoado de Cachoeira do Manteiga, a 137 km de Pirapora. Depois de recuperado, continuou navegando até 1972, quando foi incendiado acima de Pilão Arcado, viajando de Juazeiro a Pirapora. Seu casco foi conduzido de volta a Juazeiro, onde se transformou em ferro velho. Sua capacidade era de 40 toneladas.


O “Antonio Olinto”


O “Antonio Olinto” era um “gaiola” antigo de origem desconhecida que naufragou durante a Revolução de 1930, abaixo de Juazeiro, num lugar conhecido por “Caldeirão”, onde até hoje se encontra submerso. Não foi recuperado, pois o trecho onde naufragou é muito fundo.

Este foi o ultimo vapor a navegar abaixo do porto de Juazeiro. Antes a navegação era feita até Santa Maria (PE).

O acidente causou a morte de vários soldados de PM do estado da Bahia, sediados no Batalhão de Juazeiro: o pequeno gaiola ia conduzindo uma tropa de soldados, que ia a Curaçá sufocar uma revolução e prender os revoltosos.


O “Santa Clara”

Outro “gaiola” que teve um fim trágico. Em 1932 naufragou num lugar denominado “Mucambo dos Ventos” a 18 km acima de Xique-Xique, morrendo várias pessoas, entre elas, a filha do comandante Antonio de Mendonça, que se encontrava trancada no camarote.

Depois de várias tentativas de recuperar o “Santa Clara”, veio do Rio de Janeiro o engenheiro Otávio Carneiro, proprietário do navio e chefe da Cia. Indústria e Viação de Pirapora, que ajudou pessoalmente na recuperação do barco. Contraiu uma doença grave no local, vindo a falecer ao chegar a Pirapora.

Somente depois que as águas baixaram é que o “Santa Clara” foi recuperado. Seu casco foi aproveitado na construção de outro “gaiola” que deram o nome do diretor da Companhia “Otávio Carneiro” e assim, o nome “Santa Clara” foi esquecido na carreira do rio. Sua capacidade era de 50 toneladas.


O “Coronel Ramos”

Pertencia a Cia. Indústria e Viação de Pirapora herdou o nome de um de seus diretores. Sua capacidade era de 30 toneladas. Como os demais “gaiolas”, foi vendido como ferro velho pela Cia. de Navegação do São Francisco.

O ‘“Francisco Bispo”

Adquirido pelo industrial Júlio Mourão Guimarães, em 1930, no rio Amazonas. Foi batizado com este nome, em homenagem a “Francisco Bispo”, o melhor mecânico de todo Vale do São Francisco na época.

O “Sertanejo”

Era da firma Satrem S/A – Rio Minas. Foi lançado no rio em 1938. Rebocava duas chatas com capacidade para 100 toneladas cada. Sua cor era verde e por essa razão, ficou conhecido em toda margem do rio como “Periquitinho Verde”.


O “Governador Valadares”


Este “gaiola” de origem desconhecida sofreu dois naufrágios antes de ser transformado em ferro velho. Um dos naufrágios foi na Cachoeira do Sobrado, onde hoje é a barragem de Sobradinho em 1966, o outro naufrágio havia sido registrado em 1959, abaixo de Bom Jesus da Lapa, num lugar denominado “Itibiraba”. Sua capacidade era de 120 toneladas.



O “Afonso Arinos”



Era um “gaiola” pequeno de origem também desconhecida. Em 29 de janeiro de 1946, sofreu naufrágio a 6 km acima de Itacarambi, num lugar denominado “Sobrado”. Também foi transformado em ferro velho.


O “Paracatuzinho”


 Também um dos “gaiolas” de pequeno porte que navegava no São Francisco. Em 1960 naufragou na Cachoeira Três Irmãos, no Rio Paracatu, tributário do São Francisco.



O “Juracy Magalhães”

 


O maior vapor da frota da Navegação Baiana levava até seis meses sem poder navegar no rio, porque era muito grande, e nas estiagens o rio ficava muito raso, como hoje. Só navegava com o rio cheio, era muito largo. Navegou até 1963, sendo encostado no porto de Juazeiro, onde acabou no seco.


O “Costa Pereira”


Antes, este “gaiola” tinha o nome de “Pirapora”. Em 1930, naufragou na “Tapera” 36 km acima de Pilão Arcado. Não foi recuperado.
Assim como o “Costa Pereira”, os “gaiolas” “Nilton Prado” e “Rodrigo Silva” tiveram o mesmo fim, naufragados sem serem recuperados: O “Nilton Prado” naufragou em 1952, em um lugar denominado “Tabocas”, a 12 km acima de Xique-Xique, e o “Rodrigo Silva” naufragou em 1932, nas proximidades da “Ilha do Rio”, a uns 30 km abaixo de Xique-Xique. Em conseqüência a este naufrágio, o local passou a ser denominado “Rodrigo Silva”.

“Costa e Silva” e “Juarez Távora”



 Tratava-se de duas lanchas ônibus construídas pela FRANAVE nos anos de 1968 e 1969 para transporte de passageiros entre Juazeiro e Pirapora. Ambas compostas de 1ª e 2ª classes com poltronas de luxo.

Foram construídas no estaleiro da Ilha do Fogo em Juazeiro, mas ficaram desativadas por longos anos, vez que, o rio não oferecia condições de trafego, por ser muito raso para elas, os motores são a jato, sendo possível navegarem apenas dentro do lago de Sobradinho, onde não se verifica bancos de areia. Depois de passarem muito tempo desativadas no Porto de Juazeiro, foram adquiridas pela Bahiatursa, em 1981, para exploração do turismo no lago de Sobradinho. A Bahiatursa desistiu e a intenção era transformá-las em empurradores (nota> dados de 1985, da publicação do livro).

Ambas, com motor a diesel, com potência de 150 HP de força. Cada uma mede 35,36 m de comprimento, com capacidade para 131 passageiros.



Os saudosos “gaiolas” do São Francisco foram desativados e substituídos pelos empurradores Santa Alice, Santa Glória, Santa Dorotéia, Santa Bárbara, etc. que impulsionam as embarcações “Barranqueiras” e “Chatas” feita para transportar turistas e passageiros da própria região e a “chata” para transporte de mercadorias.

Fica hoje a saudade dos antigos “gaiolas” e dos “vapores”!

Por sorte, temos o “Benjamin Guimarães”, ali, novinho, todo restaurado a nossa espera e dos turistas que visitam Pirapora para um passeio de lembranças e histórias.
(velhochico.net)



Créditos: Texto copilado e adaptado do livro “O velho Chico” (sua vida, suas lendas e sua historia) de Wilson Dias da Silva. Editado em Brasília - 1985 – Com apoio do Ministério do Interior e da CODEVASF


O Sucateamento (A parte mais triste desta bela história).
 Os Empurradoes ou  rebocadores como eram conhecidos nas barrancas






Toda esta postagem foi retirada do site Velho Chico, a quem gostaria de agradecer, por gentilmente conceder que nos desfrutemos destas maralvilhas e poder-mos viajar um pouquinho pelos vapores e gaiolas do nosso São Francisco.
Leonardo Ferreira.






4 comentários:

  1. Parabéns pelo blog. Estou iniciando uma coleção de selos sobre navegação.
    Excelente fonte de pesquisa.

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    1. Nem sei como me desculpar de todos que visitaram esta página e deixaram seus elogios e dúvidas e depois de anos vou poder responder. É que eu tinha perdido o acesso a pagina ou seja a senha. Mas agradeço de coração quem por aqui passou e não deixou que o blog morresse.

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  2. Na pesquisa consegui uma relação de 36 vapores que circulavam pelo rio São Francisco. História linda das embarcações, de onde veio, como veio, da sua construção, da potência, da capacidade. Foram maravilhas do São Francisco.
    Hoje restando uma única unidade o Benjamim Guimarães circulando em alguns passeios turísticos. Rica história dos barcos, Gaiolas, e Lancha
    Eu Audisio Matias Barboza, Visitei o benjamim Guimarães e o museu em Julho de 2017

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  3. Vc tem fotos das lanchas ônibus? ...

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